sábado, 15 de outubro de 2016

Saxofones Julius Keilwerth

Saxofones Julius Keilwerth

Por se tratar de uma grande quantidade de conteúdo, vou dividir em três postagens:

  • História
  • Modelos
  • Stencils

História


Johann Baptist Keilwerth (1873 - não se sabe a data de seu falecimento), é o primeiro membro da família Keilwerth a se aventurar na fabricação de instrumentos musicais. Em 1903 aos 30 anos de idade Johann foi aprendiz na fabricação de instrumentos de sopro na oficina de Vinzenz Riedl em Kraslice (Graslitz em alemão). Em 1908 Johann já trabalhava como luthier para Franz Than em Sudetenland (atualmente parte da República Checa), essa região era conhecida na época como “Klingende Taeler” Vale Sonoro, essa fama vinha do fato da grande ocupação da área por fabricantes de instrumentos musicais, chegando a marca de 59 companhias entre 1914 e 1938.
Johann teve 4 filhos: Josef Keilwerth, Richard Keilwerth, Julius Keilwerth (1894-1962) e Max Keilwerth(1898 - 1968).


Julius Keilwerth


Todos os filhos aprenderam o ofício do pai na fabricação de instrumentos musicais. Aos 47 anos Johann começou a fabricar clarinetes e fundou a sua própria empresa, a Keilwerth. Hoje a Keilwerth é chamada de Richard Keilwerth Musik-GmbH & Co. A companhia é atualmente administrada por Thomas Keilwerth bisneto de Johann, que fabrica saxofones, clarinetes e flautas transversais.

Fundação da companhia na Checoslováquia (1925- 1947)


Em 1914 Julius Keilwerth (1894-1962) foi contratado para trabalhar na V. F. Kohlert & Sons,
importante fabricante de saxofones da época, onde trabalhou até ser chamado para servir na Primeira Guerra Mundial. Ao fim da guerra Julius retornou e passou a trabalhar para o fabricante de clarinetes Friedrich Schimmer. 
Após este estágio, Julius e seu irmão Max  iniciaram uma oficina em sua casa por volta de 1925 ou 1926. Eles fabricavam saxofones para a empresa Oscar Adler (um pequeno fabricante alemão que desapareceu após a Segunda Guerra Mundial) e FX Hüller (outro pequeno fabricante alemão).
Ainda em 1925, Julius fundou sua própria empresa a Julius Keilwerth Saxophones. Tão grande era a visão deste empreendedor que em 1930 Julius já havia construído sua própria fábrica de instrumentos em Kraslice, e apesar da crise econômica mundial de 1937, Keilwerth continuou a expandir seus negócios mundo afora.
Em 1938 a Julius Keilwerth era a maior fabricante de saxofones da região (Kohlert ainda era o maior fabricante de instrumentos, com mais de 600 empregados), tendo 150 colaboradores e exportando 2.024 saxofones para mais de 22 países . Nos primeiros anos da companhia Julius procurava produzir saxofones com a melhor qualidade possível para a época, por isso fabricava todos os acessórios para os seus instrumentos como: cases, palhetas, boquilhas, sapatilhas, etc...

Fabrica da Julius Keilwerth em Kraslice

A cidade de Kraslice fica localizada na fronteira entre Alemanha e a antiga Checoslováquia, fato influenciou diretamente a produção de instrumentos musicais naquela região durante a Segunda Guerra Mundial.
A assinatura do Acordo de Munique em setembro de 1938 deixou a cidade em plena zona de tensão, centenas de Checos foram expulsos da região. Em março de 1939 Hitler desrespeitou o tratado e ocupou todo o país.

Período da Segunda Guerra Mundial


Com a ocupação da Checoslováquia pela Alemanha Nazista em março de 1939, e o desenrolar da guerra a maior parte dos fabricantes de instrumentos musicais da região fecharam ou tiveram que converter suas fábricas de instrumentos em fábricas nazistas, produzindo principalmente componentes aeronáuticos e chapas metálicas. Não se tem muitos dados históricos da J.K. entre 1938 e 1945, mas o fato da produção de saxofones não cessar neste período é um forte indício que a J.K. não fabricou equipamentos bélicos.
Com o fim da guerra em maio de 1945, os alemães étnicos foram expulsos da Checoslováquia, gerando assim uma grande escassez de mão de obra, com isso em setembro do mesmo ano os principais fabricantes de instrumentos musicais Julius Keilwerth, Kolhert, Huller e outros menores se reuniram, juntaram os empregados Checos restantes, e fundaram a Cooperativa dos Fabricantes de Instrumentos Musicais, a qual foi chamada de "AMATI". A Amati funcionava nas instalações da Julius Keilwerth, fabricando saxofones com a marca JKG. A Julius Keilwerth, limitava-se a montagem de stencils para outros fabricantes.
Em 1946 se deu o inicio a ocupação comunistas na Checoslováquia, levando assim a expulsão dos últimos alemães étnicos da região, e nacionalização de toda a industria, incluindo a Amati. Julius e parte de sua família tiveram que abandonar a cidade de Kraslice deixando tudo para trás, pertences, saxofones e equipamentos.
Em 1948, a Amati era 100% controlada pelo Estado Soviético, e continuava fabricando saxofones com o logo JKG, comercializava o modelo Toneking, e mantinha os mesmos seriais da J.K. 
Esse fato causa até hoje problemas no reconhecimento e datação dos saxofones Amati e Julius Keilwerth desta época. A Amati seguiu este modelo de fabricação até 1955.  Richard Keilwerth trabalhou com a empresa Amati até 1949 e Max trabalhou com eles até 1951.
Não há nenhuma informação que eu pude encontrar sobre Keilwerth durante Segunda Guerra Mundial. É sabido que o regime nazista inicialmente considerava o saxofone uma "ameaça ocidental", mas havia definitivamente algumas empresas que fabricavam e estes saxofones, raramente aparecem no eBay para venda, e grande parte estão gravados com insígnia nazista.

Reabertura da companhia na Alemanha (1947 - 1962)

No final de 1946 Julius Keilwerth e sua família mudaram-se para Nauheim.  A maioria das pessoas só foram autorizados a levar 50 kg (110 lbs) de bagagem no trem com eles. Julius Keilwerth, então com 52 anos, é mencionado em uma lista de expulsão por comboio de 15, vagão 33, em 12 de setembro de 1946 destino Bavaria. Alemanha, e para não deixar de praticar seu ofício Em 29 de Janeiro de 1947, a Julius Keilwerth Companhia iniciou suas operações na lavanderia do Bäckerei (padaria) Stelzer na Bahnhofstrasse 9, Nauheim. Eles empregaram 5 pessoas, e faziam apenas reparos saxofone.
A nova Julius Keilwerth foi fundada em 19 de janeiro de 1947, e dois anos depois, a empresa Keilwerth mudou-se para um novo edifício em Königstädter Strasse 101 em Nauheim. A empresa também abriu e manteve uma divisão subsidiária na Helwigstrasse em Gross-Gerau, 5km de Nauheim. Em 1953 Keilwerth tinha cerca de 50 pessoas no trabalho, fabricando não apenas saxofones, mas também trompetes e trombones, e reparação de todos os tipos de instrumentos de sopro. Em 1962/1963 o Offenbacher Architektengemeinschaft Novotny & Mähner projetou e construiu uma nova fábrica na Königstädter Strasse 103, quatro pavilhões com um átrio interior.Aqui, as operações de Nauheim e Gross-Gerau foram reunidos.


Keilwerth fábrica Königstrasse 103 Nauheim


 Julius já trabalhava em uma oficina maior com 80 pessoas, sendo parte destes empregados funcionários da antiga J.K. em Kraslice. A nova fábrica produzia saxofones, trompetes, trombones, e realizava reparos em todos os tipos de instrumentos musicais.


Foto do catalogo 1

Foto do catalogo 2



Durante toda a sua trajetória Julius sempre foi auxiliado por seu filho Josef Keilwerth (1919 - 1982). Josef assim como o pai era um excelente luthier, sendo que quando ainda estavam na Checoslováquia Josef foi gerente da unidade da J.K. em Kraslice.

Os primeiros Julius Keilwerth fabricados na Alemanha


Os primeiros saxofones construídos em Nauheim não possuíam tanta qualidade quanto os de Kraslice, isso ocorria pelo fato de Julius não possuir os materiais e equipamentos adequados na nova fábrica Alemã. Os saxofones feitos na Alemanha tinham as chaves da campana do lado esquerdo, simples protetor de chaves de metal sem adornos, os "tone holes" eram soldados ao corpo do instrumento, e não mais perfurados e moldados. Esta alteração ocorreu pois "tone holes" soldados são mais simples de serem fabricados, e não necessitam de equipamentos especializados como os para "tone holes" perfurados e moldados.
O modelo inicial foi nomeado de The New King, seu entalhe da campana foi remodelado, porém o logo JK Trade Mark, The Best in the World foi mantido.



Max Keilwerth deixou a empresa Amati para Trossingen, Alemanha e começou a construir saxofones para a empresa Hohner, até cerca de 1967.
Richard Keilwerth deixou a empresa Amati para Markneukirchen, Alemanha e fundou outra grande empresa de sopros - principalmente preocupado com clarinetes. No entanto, ele também tem estampado algumas pontas para outras empresas, principalmente as saxofone barítono para a empresa "Weltklang"  (ex FX Hüller e agora chamado de B & S).

Batalha judicial


No começo de 1950 foi travada uma batalha judicial entre a Julius Keilwerth e a Amati pelo direito do uso do nome Toneking. A Amati afirmava que possuía os direitos legais de usar o nome, pois eles eram os sucessores legítimos da empresa de Kraslice.
Em 1955 a Corte de Justiça Européia de Haag decidiu por dar o direito do uso exclusivo do nome Toneking a Julius Keilwerth. A partir desta data disputas entre a J.K. e Amati cessaram, e em meados dos anos de 1960 a J.K. chegou a cooperar com o competidor Checo.
A despedida do fundador
No ano 1962 a Julius Keilwerth ficou órfã de seu fundador, Julius morreu aos 68 anos de idade em Nauheim, deixando um grande legado, um exemplo de determinação e empreendedorismo. A partir de 1962 a companhia foi assumida por seu filho Josef.

História moderna da J.K.

  • Fase Boosey & Hawkes

A partir de 1970 a empresa colocou maior foco na produção de saxofones. Em 1982 morreu o filho de Julius, Josef Keilwerth. Sua filha Christa e seu filho mais velho Gerhard assumiram o controle da companhia. Após alguns anos o outro filho de Josef, Jochen, se junta aos irmãos.
Neste link, você pode vir um vídeo em que Gerhard Julius Keilwerth, nos seus ultimos anos de vida, quando retornou a Alemanha, e voltou se às origens como reparador e artesão de saxofones.

Gerhard Keilwerth em 2007


Nota de falecimento de Gerhard Julius Keilwerth



Em 1989 a companhia foi adquirida pela Boosey & Hawkes, tornando-se assim uma divisão da mesma. Neste ano foi introduzido no mercado o modelo SX90R, o qual foi utilizado pelos jazzistas Branford Marsalis, Courtney Pine, Ernie Watts, Don Wise, James Moody, Ron Holloway, Mike Smith e David Liebman.
Em 1986 a J.K. contratou o saxofonista Peter Ponzol como consultor para atualizar, redefinir e refinar seus modelos para o mercado moderno de saxofones. Essa parceria resultou nos saxofones alto e tenor Model Peter Ponzol. Isto pode ter sido realmente uma coisa boa: a linha modelo foi revigorado com a introdução do ST, modelos SX e EX90, rolou anéis de tom - e a oportunidade de construir chifres para e pedir emprestado técnicas de Buffet.
Mesmo com a venda da empresa para a Boosey & Hawkes, os dois netos de Julius Keilwerth Gerhard e Jochen continuaram a trabalhar na Julius Keilwerth, sendo que em 2007 Gerhard Julius Keilwerth deixou a companhia.
Em 1996 o sax tenor da Keilwerth SX90R recebeu o primeiro premio da revista FACHBLATT (maior revista especializada em música da Alemanha), foi considerado pelos leitores "O instrumento de sopro preferido por músicos". Neste mesmo ano a Schreiber se fundiu com a Julius Keilwerth, e passou a comercializar instrumentos sobre o nome W. Schreiber & Söhne.
Em 1997 uma seção da Keilwerth foi inaugurada na IAJE (International Association of Jazz Educators), em Atlanta, Georgia. A seção foi representada pelos músicos Mike Smith, Dave Liebman, Ernie Watts, James Moody, e Nick Brignola.
Em 2003 o companhia passou a integrar o Music Group, um conglomerado de empresas ligadas a fabricação de instrumentos e acessórios musicais. Em 2006 o Music Group foi dissolvida, e a Schreiber & Keilwerth foi criada. Em março de 2010 as empresas se separaram novamente.

A sede Nauheim na Industriestrasse que foi abandonado em 2010

  • Fase Buffet Group

Em 01 de agosto de 2003 a Julius Keilwerth foi adquirida pela Buffet Crampon, e em 2010 a Buffet Crampon se tornou BUFFET GROUP.
A Julius Keilwerth é atualmente uma divisão do grupo Buffet e fabrica instrumentos em Markneukirchen, Alemanha, sua produção de acessórios esta distribuída para outros países como E.U.A., Japão, Europa, China e Taiwan.
As versões de saxofones fabricadas na fase moderna da Julius Keilwerth são:
  • SX90 e CX90: Fabricados na Alemanha pela Julius Keilwerth.
  • EX90 series I: Fabricado na Alemanha pela Julius Keilwerth.
  • EX90 series II: Fabricado na Alemanha pela Julius Keilwerth.
  • EX90 series III: Fabricado na Alemanha pela Julius Keilwerth. Montado e finalizado pela Amati na República Checa
  • ST90 series I: Fabricado na Alemanha pela Julius Keilwert.
  • ST90 series II: Fabricado na Alemanha pela Julius Keilwert. Montado e finalizado pela Amati na República Checa
  • ST90 series III: Fabricado em Taiwan.
  • ST90 series IV: Fabricado em Taiwan pela KHS Musical Instruments
  • MKX: Fabricado na Alemanha pela Julius Keilwerth.
Os modelos "EX" ("Exklusiv") exclusivo, apresentavam "engraves" mais bem elaborados na campana, chaves adicionais, acabamento em madrepérola, "drawn" e "rolled" "tone holes".
O modelo de sax alto SX90 chegou a ser fabricado na década de 1990 com corpo reto.
Em 2009 visando atender todos os mercados de saxofones estudante, intermediário e profissional; De soprano a baixo, a Julius Keilwerth dividiu seus modelos da seguinte maneira:
  •  ST90 estudante
  •  EX90 intermediário
  •  SX90, CX90, SX90R profissionais.
O SX90R apresenta "tone holes" soldados, oque difere da maior parte dos saxofones do mercado atual.
A partir de 2012 o saxofonista e endorse da J.K. desde 1989, Al Maniscalco se tornou o gerente de desenvolvimento da Julius Keilwerth. Em 2013 ele foi responsável pelo desenvolvimento e lançamento da nova linha de saxofones MKX.
Desde 2014 Jérôme Perrod é o CEO da Buffet Group.

Na próxima postagem, será exclusivamente sobre os modelos fabricados.